Tarefas que não podem esperar .
Apesar da demagogia reinante, a crise continua a aprofundar-se sem apelo nem agravo. Os dados sobre o desemprego, a produção industrial e a dívida externa testemunham isso mesmo.
Realizaram-se três actos eleitorais e um novo governo tomou funções. Todavia, desmanchado o circo eleitoral burguês, a classe dominante e seus partidos revela a mais absoluta incapacidade para debelar a crise. A discussão parlamentar em torno do programa de governo apresentado pelo PS de Sócrates para a actual legislatura foi, a tal respeito, plenamente esclarecedora.
Se para Sócrates «quem governa é o Governo», também para a pretensa oposição quem deve governar é o Governo... Foi por isso que PSD, CDS-PP, PCP e BE não fizeram "ondas" no hemiciclo de São Bento durante o debate. Efectivamente, todos eles descartaram a mera possibilidade de apresentação de uma moção de rejeição ao programa de governo apresentado pelo PS ao Parlamento (algo que o PCTP teria feito sem qualquer relutância se tivesse representação naquela tribuna)!
Não existe, portanto (e logo à partida), qualquer linha de demarcação entre a "oposição" e o actual governo "socialista". E tal verificação confirma desde logo a ideia de que Sócrates vai governar socorrendo-se de apoios pontuais ora com este, ora com aquele partido da dita "oposição"; e, como tem os dias contados, vai encetar uma permanente campanha eleitoral...
Podem os trabalhadores esperar alguma coisa de bom desta situação? É óbvio que não; é evidente que não devem alimentar qualquer tipo de ilusões no novo executivo de Sócrates. Mais: é forçoso que ousem lutar para romper em seu favor o actual impasse político!
Os trabalhadores portugueses - e os comunistas, por maioria de razão - não podem ficar expectantes; não podem deixar a iniciativa política da luta pelo isolamento e derrube do governo nas mãos dos partidos da "oposição" ou do Presidente da República.
Que atitude deve ter então o nosso Partido na situação que fica descrita? Deve ter a atitude de "não ficar à espera que toquem os sinos", a atitude de estar onde estão as massas, a atitude de demarcar a ideologia dos operários da ideologia da burguesia, a atitude de apresentar propostas políticas práticas de combate à crise - as quais sejam, por um lado, susceptíveis de unir a massa dos trabalhadores contra o capital e, por outro lado, capazes de isolar o actual governo da burguesia e de forçar o seu derrube.
Compete-nos ter um papel activo e não reactivo. Compete-nos ser actores, desde logo porque só os marxistas estão em condições de interpretar correctamente a grave crise actual. É decisivo estarmos presentes, mais do que nunca, nas lutas em curso (seja a da Quimonda, da Delphi ou da Aerosoles) e também nas que se avizinham no horizonte (como, por exemplo, a da TAP - com os sinais existentes que apontam para a tentativa da sua privatização). Isto também é válido para os bairros, as freguesias e os concelhos onde lutas populares estão em curso ou germinam.
Este papel, esta(s) tarefa(s), constitui, em última análise - e se quisermos ser realistas - o mandato que milhares de trabalhadores e de outros elementos do povo nos deram nos últimos actos eleitorais, e muito em particular nas eleições legislativas. Os cerca de 5 mil votos a mais que o povo nos deu agora relativamente às eleições de 2005 constituem um penhor insofismável dessa vontade!
Temos que ser fiéis a tal mandato. Ora corresponder a tal vontade implica, claro está, algumas medidas de organização. Mas são medidas de organização simples, que tem que primar pela operacionalidade, pela eficácia - e não "grandes medidas de organização" que, pelo menos no plano imediato, tenham que percorrer o Partido de alto a baixo. Com efeito, temos sobretudo que nos capacitar da velha máxima de que «a função faz o órgão». Na verdade, o que tem de percorrer o Partido de alto a baixo é uma clara visão da situação política actual, é uma linha política correcta e é uma firme ideologia marxista que nos torne incapazes de soçobrar ao mínimo desaire ou contratempo.
Se seguirmos este caminho as massas renovarão a sua confiança no nosso Partido. Se seguirmos este caminho teremos listas de candidatos renovadas, mais pujantes e intervenientes nos próximos actos eleitorais. E se seguirmos esta via os operários e o povo em geral verão, por certo, nas futuras participações eleitorais do Partido uma prova de firmeza e de vitalidade do PCTP, e não uma simples "prova de vida" como por vezes, nalguns casos, sucede.
É este espírito que é preciso alimentar. Estas são as tarefas que não podem esperar!