quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O Mercado de Trabalho e a Economia Portuguesa.



 Procuram-se Soluções.
Nos dias que correm e, ante um falacioso período pós-Troika pois, esta não nos abandonou, nem tão cedo o fará, Portugal é um país na ruína. Centrando-nos no mercado de trabalho apraz dizer que as taxas de desemprego são assustadoras (mais de um milhão de desempregados número encapuçado pelas falsas e manipuladas estatísticas), os salários e pensões miseráveis, os vínculos flexíveis e precários e as jornadas laborais eternas tendo em conta artifícios como o banco de horas e a drástica redução do pagamento de trabalho suplementar que conduzem à escravização do trabalhador. Só no distrito de Castelo Branco o número de desempregados são cerca de 15.000 (acima de 16%), sendo que este número é bem maior uma vez que está adulterado pelos contratos de emprego-inserção e de formação profissional. Menos de 40% dos desempregados recebem subsídio de desemprego.
Dos três anos de implementação das medidas do Memorando de Entendimento resultou a destruição de mais de 400 mil postos de trabalho e a redução da população ativa face à necessidade de emigração inclusive, dados recentes do Eurostat indicam que Portugal, no corrente ano, perdeu 5% da população, face ao ano transato.
Não é necessário ser-se economista para se compreender que os indicadores de recuperação de uma economia são o consumo e as taxas de emprego. Não pode haver qualquer dúvida em afirmar-se que, se se continuar na senda da austeridade, será necessária pelo menos uma geração para que a economia portuguesa apresente sinais de real recuperação e não apenas daquela falsa e demagógica recuperação que apenas tem um propósito: a caça ao voto.
Portugal não produz e importa mais de 80% do que consome, os portugueses cada vez têm menos poder de compra. As questões às quais se tem de dar uma rápida resposta são: Como se recupera a economia de um país que não produz? Como se incentiva o consumo?
Quanto à primeira questão, parece que a solução passará, em primeiro lugar, pelo regresso sustentado à agricultura que a UE destruiu em troca de “fundos” para abandonar os campos; em segundo, pelo aproveitamento do melhor recurso que temos ao nosso alcance: O mar, “enxotando” as ideologias imperialistas de criação do Mar Europeu reerguendo a nossa frota piscatória; por fim, acabar de vez com a delapidação do património público através das privatizações que apenas acarretam a perda de capacidade de intervenção do Estado na economia.
Quanto à segunda questão, não se incentiva o consumo com cargas fiscais incomportáveis e cortes salariais sobre salários já por si miseráveis mas precisamente com políticas inversas de redução de impostos e de aumentos salariais.
Perdemos o controlo da nossa moeda, perdemos a nossa soberania. Uma solução mais radical, a acrescer às descritas e, na qual eu acredito piamente, passará pela saída de Portugal do euro. Retrocesso? Muitos dirão que sim. Mas a verdade é que recuperamos o controlo da nossa moeda podendo desvalorizá-la e aumentar a competitividade e as exportações; podemos autofinanciar-nos recorrendo ao Banco de Portugal sem necessidade de contrair empréstimos junto do setor privado da banca o que conduz à contenção de dívida pública como consequência da não necessidade do pagamento de juros. Provável resultado: período de dificuldades durante a primeira fase de transição limitada temporalmente. No entanto, permanecer com a moeda única é seguir pactuando com a subserviência à dívida.
Em suma, deve permitir-se a retomada do crescimento português, sem esquecer que tal crescimento gera emprego, e que este mesmo crescimento recuou desde a adesão de Portugal ao euro. Trata-se, portanto, de romper um círculo de perversidade que apenas contribui para o aumento do endividamento.

David Falcão

Texto publicado no “Jornal do Fundão” de 20 de Agosto de 2015.
Os sublinhados e destaques são da responsabilidade de “ RESISTÊNCIA.”


Nenhum comentário:

Postar um comentário